Uma tecnologia impressionante – para o bem ou para o mal – foi exibida na Conferência Mundial de Robótica de 2025, em Pequim: um robô humanoide com capacidade para gestar um feto humano. O protótipo, apresentado pela equipe do Dr. Zhang Qifeng, pode chegar ao mercado já em 2026, custando cerca de 100 mil yuans (aproximadamente 73 mil reais).
Embora ainda não tenham sido realizados testes com embriões humanos vivos, os cientistas acreditam que essa inovação é promissora e pode se tornar uma alternativa mais acessível em comparação aos altos custos da chamada “barriga de aluguel”.
Mas como, afinal, funciona esse robô? E quais debates cercam uma tecnologia que entra em um campo tão delicado quanto a maternidade?
Como o robô funciona?

O projeto da empresa Kaiwa Technology, fundada pelo Dr. Qifeng, é baseado em um útero artificial capaz de levar o feto da concepção ao parto. Os nutrientes necessários ao desenvolvimento do bebê seriam fornecidos por meio de um tubo, e já foram realizados testes utilizando fluido amniótico sintético.
Por enquanto, a integração entre o útero artificial e o corpo do robô humanoide ainda está em fase de ajustes. Também não está claro como será feita a implantação do embrião nem o processo de fertilização do óvulo.
Por que criar essa tecnologia?
Mas por que desenvolver uma tecnologia tão complexa para a gestação? A motivação está em contornar problemas de infertilidade e os altos custos e barreiras legais da “barriga de aluguel”, especialmente em países com legislações rígidas.
A própria China se enquadra nesse cenário. Por lá, a gestação por substituição comercial – a popular “barriga de aluguel” – é proibida por lei. Ainda assim, o mercado ilegal é próspero, resultando em cerca de 10 mil nascimentos por ano. E não se engane: a procura pelo serviço não está relacionada a preços baixos. Segundo o New York Times, contratar uma barriga de aluguel na China custa em torno de 240 mil dólares – mais de 1 milhão de reais.
Na prática, quem sustenta esse mercado é a elite chinesa, pressionada socialmente a ter filhos após o casamento. Muitas vezes, casais ricos são conectados a mulheres pobres de áreas rurais, que veem na prática a única forma de sobrevivência.
Além disso, a China enfrenta uma crise de natalidade crescente, mesmo após a abolição da política do filho único em 2015. Entre os fatores que explicam o cenário estão a insegurança econômica, o aumento da infertilidade (um em cada seis casais chineses enfrentava o problema em 2023) e mudanças sociais, como o adiamento do casamento e da maternidade.
Dilemas éticos
Os dilemas éticos são muitos. Além das incertezas sobre os métodos de obtenção do material genético e da implantação dos embriões, surgem outras questões cruciais: quais seriam os efeitos para um bebê gestado sem contato materno? Como a “robotização” da maternidade impactaria os direitos das mulheres? E, em caso de problemas, quem assumiria a responsabilidade pela gestação: os pais ou a empresa fabricante?
Embora a proposta de gestação robótica contorne custos e barreiras legais, ela também pode aprofundar desigualdades antigas, como a questão de gênero, e levantar novos problemas – entre eles, a possibilidade de uma geração de crianças sem vínculo gestacional com as mães.
Conclusão
Embora o robô da Kaiwa Technology prometa resolver parte dos desafios ligados à infertilidade e à barriga de aluguel, ele abre espaço para debates profundos que vão muito além da ciência. Questões éticas, sociais e de gênero precisam ser consideradas antes de qualquer passo em direção ao mercado.
Ainda há um longo caminho até que a gestação robótica se torne realidade, e será preciso muito diálogo para decidir se essa é, de fato, uma evolução desejável para a humanidade.

